sexta-feira, 13 de maio de 2011

Inauguração da Praça Almirante Alexandrino de Alencar - Por José dos Anjos Dias

A estátua do Padre Cícero Romão Baptista, situada à Praça Almirante Alexandrino (atual Praça Padre Cícero), foi inaugurada no dia 11 de janeiro de 1925, e não como está sendo interpretado que ocorrera o acontecimento no dia 24 de março de 1924.
A inauguração da referida estátua, estava prenunciada para ser no dia do aniversário natalício daquele reverendo, que seria a 24 de março de 1924. Por motivo superior deixou de ser naquela data e abaixo citarei o que deu causa ao ato sustatório.
O Ministro da Marinha, naquela época, fora distinguido através de convite feito pelo Padre Cícero, com a finalidade daquele titular da Pasta Naval vir a Juazeiro para assistir à inauguração da estátua. Estava à frente dos destinos da Marinha, o Almirante Alexandrino de Alencar, figura rutilante pela bondade de coração e gestos nobres.
Aquele chefe supremo do Ministério da Marinha acusou o recebimento do convite e agradeceu a gentileza do levita caririense. Alegou ao Padre Cícero que não era possível o seu comparecimento ao ato atestatório de bondade e conceito reconhecidamente pelo povo, em oferecer-lhe um monumento para perpetuação à sua memória. Acrescentou mais que mandaria em seu lugar um contingente naval para abrilhantar a solenidade, seria a Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará. Deixava de apresentar-se por ocasião do acontecimento, devido o seu estado de saúde não lhe permitir.
A evasiva do Ministro da Marinha, alegada ao Pe. Cícero teve cunho real, porque aquele dignitário naval morreu após a inauguração da estátua.
Na época prevista ao ato de inauguração da estátua, não foi possível o chegamento da referida guarnição que o Almirante prometera enviar ao Juazeiro, em virtude da supra dita escola encontrar-se no período letivo.
Então, o Ministro da Marinha, com a devida antecedência apresentou ao Padre Cícero desculpas por não poder deslocar aquela escola, em março, conforme prometera, porque iria interromper a rotina programada ao ensino destinado aos aprendizes marinheiros do Ceará. Mas em dezembro faria a Escola de Aprendizes Marinheiros apresentar-se ao Padre Cícero.
Daquela forma, impreterivelmente, seria inaugurada a estátua com aparato suntuoso porque o reverendo era merecedor. Isso, consoante ao modo de pensar ou de ver do Ministro da Marinha para com o Padre Cícero.
O Padre Cícero e o Dr. Floro Bartolomeu da Costa, Deputado Federal e braço direito do Taumaturgo do Nordeste, concordaram com a justificação apresentada pelo Almirante Alexandrino e esperaram pela vinda da alegada escola.
Em dezembro de 1924, quando a escola terminou a aprendizagem das matérias de aplicação intelectual, o Ministro da Marinha ordenou ao Capitão Tenente Pedro Augusto Bittencourt, que na ocasião era o comandante da escola, para seguir com seus aprendizes marinheiros com destino ao Juazeiro do Norte e apresentar-se ao Pe. Cícero.
O contingente naval, formado por aquela escola, só conseguiu chegar a esta cidade aos primeiros dias de janeiro de 1925, tendo embarcado em Fortaleza numa composição da antiga R.V.C. (Rede de Viação Cearense). Naquele tempo, a Rede de Viação Cearense-Estrada de Ferro de Baturité, atual REFFESA, ainda não havia atingido Juazeiro do Norte e tinha seu fim de linha em Ingazeira onde a escola desembarcou, distante de Juazeiro 10 léguas.
Dali, para chegar ao Juazeiro, utilizou vários tipos de transportes, conseguindo alcançar nossa cidade, mais ou menos a 8 de janeiro de 1925, época chuvosa e de muita lama nas estradas.
Se não fosse a estima que o Pe. Cícero desfrutava, o Ministro da Marinha não teria à custa de sacrifício e despesa para o cofre naval, enviado aquela guarnição militar a Juazeiro do Norte.
Vejamos que a Marinha, até então, nunca havia deslocado uma guarnição para o interior, a fim de dar testemunho de respeito ou adesão a nenhum homem por mais influente que fosse, só o Padre Cícero foi merecedor daquela consideração.
Com a chegada do almejado contingente, o povo alvoroçou-se para ver de perto os soldados da Marinha. E, efetuou-se a solenidade de inauguração da estátua a 11 de janeiro de 1925, e não a 24 de março de 1924 como acreditam aqueles que desconhecem o acontecimento, por não constar nenhuma inscrição no monumento ao Padre Cícero, que faça referência ao ato.
Nunca houve em nossa cidade uma festa como aquele acontecido. A guarnição naval compunha-se de 100 aprendizes marinheiros e um 2º Sargento, sargenteante da escola, dois cabos de esquadra e três marinheiros de 1ª classe, cinco oficiais subalternos e um Capitão Tenente, comandante da escola.
Estavam fardados caprichosamente e ficaram formados defronte à estátua, e a banda de música da referida escola executando belíssimos dobrados, o povo eufórico batia palmas.
O Padre Cícero estava presente ao ato inolvidável e acompanhado pelo saudoso Dr. Floro Bartolomeu, autoridades civis e militares de Fortaleza. Bem assim das autoridades do Crato, Barbalha e Missão Velha, São Pedro (atual Caririaçu) e Brejo Santo, inclusive a fina nata da sociedade das cidades referidas.
Diversos oradores fizeram uso da palavra, inclusive o notável Dr. Gomes de Matos que tinha o dom da oratória. O seu discurso de improviso fez o reverendo ficar emocionado, conservando-se por alguns minutos com o olhar fixo à sua estátua, e seus olhos marejando.
(Texto resumido de um artigo publicado originalmente no Boletim do ICVC de 1982)

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