sexta-feira, 27 de maio de 2011

Padre Francisco Pinkowski - Por Armando Lopes Rafael

Por iniciativa do Papa Bento XVI, a Igreja Católica abriu, em 19 de junho de 2009, o Ano Sacerdotal. Este evento insere-se nas comemorações dos 150 anos da morte de São João Maria Vianney – o conhecido Cura d’Ars – Patrono dos párocos de todo o mundo. A idéia central da realização desse Ano Sacerdotal é fomentar o empenho de renovação interior de todos os sacerdotes para um testemunho evangélico, mais vigoroso e incisivo, dentro do lema “O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus”, como costumava dizer o Santo Cura d’Ars.
   A Diocese de Crato abriu as comemorações do Ano Sacerdotal na tarde dia 4 de agosto de 2009 – data consagrada ao Cura d’Ars – em solenidade na Catedral de Nossa Senhora da Penha. Na ocasião foram ordenados cinco sacerdotes e dez Diáconos Permanentes. O ato foi uma oportunidade, também, para agradecer a Deus pelo fato de a Igreja Particular de Crato, ao longo de sua existência – que já se avizinha dos cem anos – ter contado, nas diversas etapas da sua história, com sacerdotes fiéis, que se doaram na construção do Reino de Cristo em terras do Sul do Ceará.
     Um desses sacerdotes foi o Padre Francisco Pinkowski, da Ordem Salesiana, nascido na Polônia em 1882. Ainda jovem foi estudar em Turim, na Itália, indo, depois, para Montevidéu, no Uruguai. Nesta última cidade foi ordenado presbítero em 1920. Dali foi enviado para o Brasil, para Pernambuco, onde residiu de 1921 a 1939. Foi transferido, em seguida, para Fortaleza, no Ceará, onde exerceu várias atividades pastorais entre os anos 1940-1943. De Fortaleza veio para Juazeiro do Norte, onde permaneceu os anos 1944-1945, retornando a Pernambuco em 1946. Padre Francisco Pinkowski viveu seus últimos anos em Juazeiro do Norte, aonde veio a falecer em 1979 com 96 anos.
         Sobre este sacerdote escreveu o escritor Mário Bem Filho:
         “Em Juazeiro do Norte, Padre Francisco Pinkowski, apesar da idade avançada, jamais se deixou vencer pelo cansaço. Levantava-se cedo e começava a rezar o terço e, após meditação, celebrava a Santa Missa. Posteriormente começava a atender às confissões, saindo, em seguida, sempre a pé, para prestar assistência aos enfermos pobres que habitavam a periferia de Juazeiro do Norte. Seu maior sonho era ver concluída a construção da igreja do Sagrado Coração de Jesus, o que conseguiu realizar.
           “Padre Francisco Pinkowski era um padre virtuoso, um autêntico apóstolo do bem, devoto de Nossa Senhora Auxiliadora e de Dom Bosco. Durante sua existência apresentou características marcantes, dentro as quais destacamos: profundo amor pelas vocações; zelo sacerdotal pelas almas, demonstrado no ministério das confissões, principalmente aos enfermos; coração aberto aos pobres. Jamais um necessitado que o procurasse, dele se afastava de mãos vazias; coração sempre inclinado ao perdão, nunca guardando rancor de ninguém”.
            Sobre o Padre Francisco Pinkowski conta-se, em Juazeiro do Norte, uma história de domínio público. Certa manhã ele foi chamado para dar a Unção dos Enfermos a uma moribunda que residia na Rua da Palha, periferia daquela cidade. Carregando a hóstia consagrada, estola, livro-devocionário e um recipiente com água benta, para a Rua da Palha dirigiu-se para lá, a pé, o bom padre. Em lá chegando, Padre Francisco Pinkowski entrou numa pequenina palhoça, destituída de qualquer móvel onde ele pudesse colocar os objetos sagrados, enquanto vestia a estola. Constrangido, por não querer colocar esses objetos no chão, eis que entra, na palhoça, um rapazinho de boa aparência, bem vestido e pede ao Padre Francisco para segurar os objetos. Após cumprir a tarefa o rapazinho se afastou do pequeno recinto.
   A sós com a moribunda, Padre Francisco ministrou a confissão, deu-lhe a comunhão e procedeu a Unção dos Enfermos.  Ao sair, perguntou a algumas pessoas que estavam do lado de fora da choupana:
– Onde está aquele mocinho que segurou meus objetos? Gostaria de agradecer a ele...
     Para surpresa do sacerdote todos insistem em dizer que, na palhoça, não entrara ninguém. Padre Francisco retornou ao Colégio Salesiano um tanto intrigado com o fato. Chegando ao Colégio, ali entrou pela antiga capela do educandário. Foi quando seus olhos se fixaram num altar e ele viu uma imagem de São Domingos Sávio. Emocionado, reconheceu naquele santo o rapazinho que o ajudara momentos antes, no casebre da enferma a quem dera assistência espiritual.
    Padre Francisco Pinkowski faleceu em 15 de abril de 1979. Foi sepultado no dia seguinte, no interior da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Juazeiro do Norte, após missa de corpo presente concelebrada por 26 sacerdotes. Ainda hoje sua sepultura é muito visitada. Muitas pessoas vão até seu túmulo para dar testemunho de graças alcançadas por sua intercessão.

Armando Lopes Rafael é historiador. 

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A chegada da televisão em Juazeiro e no Cariri - Por Renato Casimiro

No início de janeiro de 1965, numa conversa na Praça Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, entre Luiz Gonçalves Casimiro, comerciante do ramo de material elétrico, e Luiz Ferreira de França, técnico em eletrônica, é que se pensou na possibilidade de trazer para o Cariri as imagens e o som de uma estação de televisão. Os dois trocaram idéias com Hildegardo Belém e Antoni Arrais, e daí surgiu o entusiasmo que os levou a percorrer o comércio e a indústria locais para arrecadar fundos para a compra dos equipamentos.
A primeira experiência foi realizada em casa de Antoni Arrais, então residente no alto do bairro de Fátima, logo no início do Jardim Gonzaga, à margem da rodovia para Barbalha. O local se devia, principalmente pela sua altitude. Durante toda aquela noite, em meados de janeiro de 1965, tentou-se captar algum sinal. O equipamento disponível era um televisor de marca Philips, convencional, de 20 polegadas e uma antena de 12 elementos que ficou há cerca de 10 metros de altura. Esta antena era adequada para o canal 2, pois a primeira impressão era a da captação deste canal, do Recife, a TV  Jornal do Comércio. Esta estação já vinha sendo retransmitida para o interior pernambucano, sendo  Garanhuns o ponto mais próximo de Juazeiro, onde vinha sendo captada. Naquela noite, dia da primeira  experiência, os ânimos somente cederam pela meia-noite quando o grupo desistiu.
No dia seguinte, Luiz Casimiro, tomou seu carro e foi até a oficina de Luiz de França. Combinaram para que, naquela mesma tarde, tomando todo o equipamento usado na noite anterior, fossem  realizar uma nova tentativa em Caririaçu. Já estava escurecendo quando os dois chegaram a manter os primeiros contatos com o prefeito Raimundo Bezerra (Mundeza) e o vigário Padre Vicente Feitosa. A experiência deveria ser montada junto à igreja matriz, em razão da necessidade de   se colocar a antena na torre, ponto mais alto. Com o auxilio de luzes de carros de particulares, todo o local foi bem iluminado e assim foi possível montar o equipamento. Enquanto Luiz Casimiro ajustava a antena, procurando uma melhor posição, na orientação do Recife, Luiz de França, em baixo, ajustava o aparelho. Em dado momento, aparelho ajustado, começaram a ver e a ouvir em boas condições  de sintonia a emissão da TV Jornal do Comércio de Recife, canal 2. Foi uma loucura ! Um aglomerado imenso de curiosos e tantos outros mais iam sendo chamados para presenciar aquele fato inusitado para a cidade de São Pedro. A partir daí, Luiz de França, conhecedor em profundidade de tudo estava se passando, a nível técnico, não teve mais dúvidas de que seria possível remeter para todo o Cariri, a partir daquele ponto, as imagens captadas. O povo estava radiante com a novidade; muitos foram comemorar num boteco próximo. Até o prefeito Mundeza tomou um “porre”. Já eram 22 horas, aproximadamente. A experiência teve de ser interrompida, para insatisfação de todos os presentes. As imagens eram quase perfeitas . Apresentavam um pouco de “chuvisco” que em determinados momentos  aumentavam de intensidade para logo em seguida ocorrer a recuperação do sinal, como se tratasse de uma onda que vem e passa. Acreditou-se a partir daí  que um reforçador de sinal, melhores ajustes e a colocação em definitivo da antena melhorariam a qualidade do sinal recebido. A este grupo entusiasmado juntaram-se logo os então superintendentes  da CELCA (Cia. de Eletricidade do Cariri) e diretor técnico, respectivamente os Drs. Nicodemos Lopes Pereira e Carlos Bertino. Nos três dias que se seguiram a esta bem-sucedida experiência foram realizadas outras que confirmaram as características da recepção inicial. Enquanto os planos  eram articulados pela comissão local, composta por pessoas já referidas, para trazer em definitivo esta imagem  para o Cariri, por retransmissão, Luiz Casimiro deu ciência ao grupo da instalação de uma repetidora em Caruaru, por um técnico de nome Geraldo Aureliano de Barros Correia. Tal equipamento vinha funcionando com enorme sucesso naquela cidade pernambucana. Antoní e Hildegardo, sempre muito entusiasmados, decidiram logo entrar em contato com este técnico. Através de uma troca de correspondência, ficou  estabelecida  a vinda do Geraldo para avaliar pessoalmente as condições locais. Isto foi em maio de 1965.Foi enviada a passagem para que ele  num dos vôos da Varig (DC-3), vindo do Recife, aos sábados. Contudo, somente um mês depois é que veio e foi recebido no aeroporto por Luiz Casimiro, que nos sábados anteriores vinha cumprindo o ritual de ir esperar o “milagreiro”, frustrando suas expectativas. Mas finalmente ali estava o homem. Foi hospedado no Hotel Guarani, de onde  saíram com todo o equipamento para uma verificação em Caririaçu. Em lá chegando, repetiram a experiência e foram feitas medidas de intensidade de sinal. Ficou constatado, com o equipamento que trouxera, que a intensidade era pouco menor que a metade estimada para a zona urbana, dentro do Recife. E por isto, a repetição desde Caririaçu seria precária com ampliação dos “chuviscos”. Apenas tiveram que mudar o local, pois no calor das montagens e desmontagens de equipamentos, várias telhas da igreja foram quebradas e o “seu” vigário não mais permitiu a realização destas experiências. Mudaram-se para o prédio da prefeitura, com o aval do prefeito Mundeza.
            Decidiram procurar uma posição, igualmente previlegiada, nas proximidades de Juazeiro. Já bem próximo, divisaram o Horto que o entusiasmou. A subida pela rua do Horto, com um Gordini apinhado de equipamentos não foi lá muito fácil. Finalmente venceram a subida e reinstalaram a antena. Esta ficou junto ao então cruzeiro que havia próximo da casa do Beato Elias. A medida da intensidade de sinal foi idêntica à encontrada em Caririaçu, o que deixou todos muito entusiasmados. Mas a experiência definitiva somente foi feita no dia seguinte. Como no alto do Horto não havia eletricidade, foi necessário levar um gerador. No dia seguinte, constataram que ali era possível captar com a mesma eficiência que em Caririaçu. As pequenas deficiências seriam sanadas com a repetição e um reforçador do sinal, tipo “booster”, que associado a uma antena “rômbica” seriam capazes de dotar a região de bons sinais.
Na segunda viagem de Geraldo Aureliano a Juazeiro, ainda em junho, as experiências se demoraram por quase 20 dias. Diariamente, no período noturno, era expressiva a multidão de curiosos que acorria ao serrote do Horto para satisfazer a curiosidade. No início de julho, já com o apoio da municipalidade, através do seu prefeito, Cap. Humberto Bezerra, a comissão local recebeu a proposta do técnico que basicamente compreendia o seguinte: primeiro: a instalação da repetidora(a ser adquirida no Rio de Janeiro, da empresa Lys Eletronic), bem como de uma antena rômbica e o reforçador de sinal tipo “booster”; segundo: o raio de ação da repetidora seria de cerca de 35 km, em face da sua orientação, apenas os municípios de Juazeiro, Barbalha e Missão velha seriam beneficiados (para o Crato e outros municípios, em posição lateral, seria necessária a implantação de outra repetidora); terceiro: os trabalhos demandariam 60 dias; quarto: o custo da obra foi orçado em 13 milhões de cruzeiros para os equipamentos e serviços técnicos, e mais 7 milhões de cruzeiros para outras despesas, igualmente necessárias, como serviço de terraplanagem, construção de uma casa para os equipamentos, etc.; quinto: a responsabilidade destas obras de apoio ficaria a cargo da prefeitura. O contrato foi assinado na prefeitura, no dia 7 de julho. Convém salientar que para a instalação da antena “rômbica”, com quatro mastros, em forma de losango, a prefeitura teve que promover mudanças extremamente drásticas na fisionomia do Horto. Citaríamos a retirada de diversas e frondosas mangueiras; a derrubada do velho tambor – árvore que conferia um aspecto inconfundível, visto de várias partes do Cariri; a remoção das últimas ruínas da igreja do Horto, iniciada pelo Padre Cícero, segundo a maquete elaborada por Pedro Coutinho, em flandre, conforme ainda se pode ver no museu do Padre Cícero, em Juazeiro do Norte; a demolição da casa dos milagres – antiga moradia do Beato Elias; a remoção do velho cruzeiro que ficava em frente a capela, e certamente a terraplanagem de toda a área, como se fazia necessário. Não se pode deixar de referir que foi este um duro golpe na memória do Juazeiro e do Padre Cícero, como lembra Luitgarde O. C. Barros, em sua tese de mestrado (PUC,SP,1980–A Terra da Mãe de Deus):  “Era o ataque ao universo do Padre Cícero, não pelas armas como ele temeu até a morte; mas subliminarmente, pelos mecanismos do progresso, pela deculturação de um mundo que luta pela própria preservação, pelo culto de seus santos, pela proteção de seu padrinho”. Quase no final de agosto de 1965, o material adquirido para implantação da repetidora chega a Juazeiro, e é exposto nas vitrines da Loja Simpatia, do Sr. José Gondim Lóssio, um dos entusiastas da idéia. A prefeitura cumpria a sua parte, preparando o terreno; a CELCA se responsabilizara pela energização da área, e fincaria os quatro mastros (postes de cimento armado). O dinheiro para o pagamento de todas as despesas, já referidas, proveio, na sua maior parte, do comércio local, de empresas como Aliança de Ouro, M. Alencar, Feijó de Sá, Centro Elétrico, e muitas outras. A prefeitura contribuiu com uma parte menor. A questão da energia elétrica, pois o Horto até então não dispunha de instalação, foi solucionada com uma linha que nascia desde as proximidades da casa de Manoel Germano, quase no final da rua do Horto, em postes de madeira, por um atalho até o alto. O fio necessário foi cedido gratuitamente pelo Centro Elétrico. Esta rede elétrica terminou sendo, a partir daí, alvo de depredação e roubos, o que por muitas vezes interrompeu a repetição das imagens, deixando muita gente na cidade, furiosa. A primeira previsão de inauguração do sistema era 7 de setembro de 1965, quando outros melhoramentos seriam inaugurados pela municipalidade. Até uma pequena praça deveria ter sido construída no local. O funcionamento em definitivo somente ocorreu em 25 de outubro. Apesar da empolgação de tantos quantos foram até ao Horto, acompanhar as experiências, poucos chegaram a adquirir aparelhos. Seis meses depois de inaugurado o sistema de repetição, estimava-se que por volta de uma centena de residências dispunham de aparelhos. Algumas lojas comerciais deixavam, ao longo da noite, e até ao final da transmissão, aparelhos ligados, em torno dos quais se verificava grande ajuntamento de pessoas. De acordo com a previsão do técnico Geraldo Aureliano, a transmissão se iniciava, no final da tarde, com um sinal ainda precário, e ao longo do período, já por volta de vinte e uma horas, era muito boa. Havia, mesmo assim, bons períodos de aproveitamento. Em determinada fase do ano, como no inverno, a transmissão piorava, no geral. De acordo com entendimento pessoal de Luiz Casimiro com os fabricantes (Lys Eletronic, RJ), não era possível fazer, com o que estava ali instalado, nenhum melhoramento substancial. A longa distância entre Recife e Juazeiro e a ocorrência de serras no percurso reduziam com muita intensidade o sinal emitido. Somente a instalação de uma outra repetidora, intermediária, ou várias, permitiria a melhoria da captação. A programação era do agrado geral e muito interessante em seriados,, filmes de longa-metragem, noticiários e programas de auditório. O sistema tinha um lado crítico: sua manutenção. Os principais componentes, válvulas, várias vezes tiveram que ser substituídos. Isto demandava interrupções nas transmissões por períodos longos, custos adicionais que a própria prefeitura não cobria. Luiz Casimiro ainda guarda hoje várias notas fiscais de aquisições destas válvulas, substituídas, que “por amor à arte” ficaram como “doações”. Este foi o início, outros fatos subsequentes e menores, deixaram de ser relatados. Oportunamente, colheremos novos depoimentos que nos falem ainda da manutenção deste sistema de repetição de imagens e som da TV Jornal do Commércio, e mesmo da sua desativação. Será interessante também falar da constituição da rede de repetidoras de imagem de televisão, a cargo da Companhia Telefônica do Ceará – CITELC -, já que no final dos anos 60, trouxe para o Cariri a imagem de uma estação de Fortaleza – a TV Ceará, Canal 2. Mas isto será outra e longa conversa, finalizou.

Obs.: Este depoimento foi em diversas oportunidades orientado quanto à datas e alguns detalhes pelo consócio Daniel Walker Almeida Marques, cujo trabalho jornalístico, como correspondente de O POVO (Fortaleza), em Juazeiro do Norte, foi muito preciso e substancioso desde o início do ano de 1965. Expressamos, portanto, os nossos agradecimentos por sua colaboração.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Padre Cícero e a Escola Normal - Por Assunção Gonçalves

Padre Cícero foi um grande incentivador da educação em Juazeiro do Norte. E disso eu sou testemunha presencial. Ainda permanece em minha memória o dia em que uma Comissão formada por Amália Xavier de Oliveira, Elias Rodrigues Sobral, Maria Menezes e eu estivemos na casa dele para pedir seu apoio para fundação da Escola Normal. Quando Amália lhe explicou que a Escola seria destinada à formação de professoras rurais e usaria uma metodologia de ensino inovadora, ele, já muito velhinho (poucos dias depois morreria) fez questão de ressaltar a importância da nossa Escola Normal dizendo que ela “era justamente a escola que Juazeiro precisava”. Quando pedimos para ele colaborar, comprando ações daquele ousado empreendimento    educacional, não se fez de rogado, comprou e pagou na hora duas ações no valor de 500 mil reais cada, mas pediu que as ações ficassem nos nomes de suas pupilas Generosa Alencar e Antônia Vieira. Padre Cícero ainda teve o prazer de ver inaugurada a Escola Normal que ele ajudou a fundar. A Escola foi oficialmente instalada no dia 13 de junho de 1934 e um mês e sete dias depois, no dia 20 de julho, ele morreu.  A Escola Normal Rural de Juazeiro, pioneira do ensino ruralista em todo o Brasil, foi o maior marco da história educacional desta cidade. Foi extinta em 1972, mas nunca foi esquecida.
DO FUNDO DO BAÚ

Esta foto mostra o banquete comemorativo da formatura da Primeira Turma de Professoras da Escola Normal Rural, em 1937. São vistos com destaque: Almino Loiola de Alencar, Tarcila Cruz Alencar, Dr. Gregório Calou, Dr. Mário Malzone, Pe. Orlando Tavares, Dr. Belém de Figueiredo, Antonio Pita, Dr. Plácido Castelo, Joaquim Alves, Pe. Cícero Coutinho, Pe. Manoel Gomes, Amália Xavier, Jesus Rodrigues, Raimundo Borges, Maria Martins, Generosa Ferreira Alencar, Maria Moreira, Heloísa Coelho, Doralice Gomes de Matos, Nair Figueiredo, Dacilde Cruz, Pe. Rodolfo Ferreira. Em pé: Elias Rodrigues Sobral, Doralice Soares, Rici Maia, Venúsia Cabral e Zilda Figueiredo. O local era o Pavilhão Raul de Paula, no interior da ENR. (Arquivo de Assunção Gonçalves). 

A primeira barbearia de Juazeiro - Por Fátima menezes

“Juazeiro começou a crescer, depois dos chamados "Milagres de Juazeiro". O povo começou a afluir para a região e o povoado começou a evoluir tão rápido que, em um ou dois anos, seu aspecto melhorou dez vezes mais do que nos 23 anos antes da chegada do Padre Cícero. Ele às vezes relembrava com saudades o Juazeiro de 1872, quando aqui chegou e certa vez contou a meu avô, como era a primeira barbearia, da cidade naquela época: embaixo de duas grandes árvores, um juazeiro e uma tamarineira, um velho barbeiro, vindo de Missão Velha, montou sua barbearia. Ali chegava o freguês, sentava-se no banco que era uma velha moenda de engenho. O barbeiro ordenava logo que o caboclo tirasse a camisa. Ao cortar o cabelo do indivíduo servia de escova a própria camisa do cliente, com a qual dava o mestre barbeiro uma tremenda surra nas costas do cabra, para tirar o cabelo que tinha sido cortado. Depois a barba, era um Deus nos acuda. Um velho prato de barro, cheio de água às vezes já suja de outras barbas, molhava nele um pedaço de sabão de tingui e passava no rosto do paciente, que a estas alturas não podia ser chamado de outra coisa. Em seguida desfolhava a velha e cega navalha no rosto do cabra, mandando que fizesse bochechos e metia o aço a tirar a barba, pele e o mais que encontrasse. Quando terminava a operação, ouvia o barbeiro esta reclamação: Devíamos ter nascido sem barbas, não era compadre?
    Isso era tão comum, que em nada alterava a paciência do Mestre barbeiro. O pobre diabo, porém, ao fazer esta queixa, corriam lágrimas dos olhos, porque onde não estava sem couro, minava sangue... e entre gargalhadas concluía o Padre Cícero dizendo o seguinte: "Daí a razão meu camaradinha porque os mais antigos só se barbeavam de 15 em 15 dias, quando não conservavam barbas enormes". (Extraído do livro O outro lado da história do Juazeiro, de Fátima Menezes).

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Nossa Senhora das Dores nas origens de Juazeiro do Norte – por Armando Lopes Rafael (*)



1.      Introdução
 Podemos afirmar, com toda segurança, que a cidade de Juazeiro do Norte teve início como fruto da devoção a Nossa Senhora das Dores. Embora a maioria das pessoas atribua ao Padre Cícero Romão Batista a fundação de Juazeiro do Norte, renomados historiadores afirmam ter sido o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro o fundador do núcleo primitivo, que deu origem da atual cidade.
Amália Xavier de Oliveira, no livro “O Padre Cícero que eu conheci”, esclarece o que motivou a construção de uma capela na Fazenda de propriedade do Brigadeiro Leandro.

Ordenara-se sacerdote, o Pe. Pedro Ribeiro de Carvalho, neto do Brigadeiro, porque filho de sua primogênita, Luiza Bezerra de Menezes, e de seu primeiro marido, o Sargento-mor Sebastião de Carvalho de Andrade, natural de Pernambuco. Para que o padre pudesse celebrar diariamente, sem lhe ser necessário ir a Crato, Barbalha ou Missão Velha, a família combinou com o novem sacerdote a ereção de uma capelinha, no ponto principal da fazenda, perto da casa já existente. (OLIVEIRA, 1981:33-34)

A capela foi consagrada a Nossa Senhora das Dores, cuja imagem foi trazida de Portugal. (id.:35)

Deve-se, pois, ao Brigadeiro Leandro a iniciativa da primeira urbanização da localidade – ainda conhecida por Tabuleiro Grande – com a edificação da Casa Grande, de uma capela, além de residências para os escravos e agregados da família. A realidade histórica nos mostra: quando o Padre Cícero chegou ao “Joaseiro”, para fixar residência, em 11 de abril de 1872, como sexto capelão, já encontrou um povoado formado em torno da capelinha de Nossa Senhora das Dores. Contava o lugarejo, à época da chegada deste sacerdote, com 35 residências, quase todas de taipa, espalhadas desordenadamente por duas pequenas ruas, conhecidas por Rua do Brejo e Rua Grande. No povoado – à época da chegada do Padre Cícero – residiam cinco famílias, tidas como a elite do vilarejo: Bezerra de Menezes, Sobreira, Landim, Macedo e Gonçalves. É verdade, porém, que o povoado só veio a ter alguma projeção a partir da ação evangelizadora do Padre Cícero. E o vertiginoso crescimento demográfico da localidade só começou em 1889, motivado pela ocorrência dos fatos protagonizados pela Beata Maria de Araújo, que passaram à história como “O Milagre da Hóstia”.
2.      A primitiva imagem da Mãe das Dores
A imagenzinha de Nossa Senhora das Dores – adquirida pelo Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, em Portugal – foi venerada como padroeira da Fazenda Tabuleiro Grande e, posteriormente, pela povoação do “Joaseiro”, por cerca de 60 anos. Zélia Pinheiro, escrevendo ­– no opúsculo Sesquicentenário de Fé – sobre a inauguração, em 19 de agosto de 1884, da nova capela de “Joaseiro”, esta já construída pelo Padre Cícero, em substituição à primitiva, edificada pelo Brigadeiro, narra:
(…) Continuava como Padroeira Nossa Senhora das Dores e fora colocada no Altar a mesma imagem trazida de Portugal para a Capelinha da Fazenda Tabuleiro Grande. Era uma imagem em estilo bizantino, de madeira, muito bem esculpida, tendo setenta e cinco centímetros de tamanho e permaneceu no Altar-Mor até setembro de 1887, quando foi trocada pela imagem que até hoje está lá. (ZÉLIA PINHEIRO, 1977:26).
Bom esclarecer que a atual imagem – ora pontificando no altar-mor da Basílica Menor de Nossa Senhora das Dores – foi adquirida pelo Padre Cícero a fim de substituir a primeira imagem, esta adquirida pelo Brigadeiro Leandro Bezerra. A atual imagem somente chegou a Juazeiro em 1887, proveniente da França. A pequena imagem primitiva de Nossa Senhora das Dores, chamada antigamente pelo povo de “Carita”, encontra-se em perfeito estado de conservação. Ela, por questão de segurança, é guardada na Casa Paroquial. Geralmente é exposta à veneração dos fiéis nas duas grandes procissões anuais: a de 2 de fevereiro (Nossa Senhora das Candeias) e 15 de setembro (Nossa Senhora das Dores).

(*) Armando Lopes Rafael é historiador. A foto de Elizangela Santos mostra Dona Assunção Gonçalves com a estampa da imagem referida nesta matéria.

Bibliografia:
OLIVEIRA, Amália Xavier de. O Padre Cícero que eu conheci: verdadeira história de Juazeiro do Norte. 3ª ed. Recife: Editora Massangana, 1981, 332 p.
PINHEIRO, Zélia. Sesquicentenário da Fé – Juazeiro do Norte – Ceará – 1827 a 1977. Crato (CE), 1977. 50 p.

domingo, 22 de maio de 2011

O Rio Salgadinho - Por Senhorzinho Ribeiro






























Quem conheceu o Rio Salgadinho de outrora como eu co­nheci não acredita que é o mesmo de hoje.
Suas margens eram compostas de roçados de arroz e cana-de-açúcar. Arvores frondosas acompanhavam o seu curso. Seu leito era bem mais largo e profundo. O peixe era abundante e as águas límpidas refletiam a beleza de uma natureza virgem e sem poluição. No inverno o rio se agitava e suas águas rebeldes tripli­cavam seu volume.
No verão, poços tradicionais se formavam, como "Procópio", "Pneu" e "Ingá" , e a garotada do meu tempo tomava banho despida, transformando os galhos das ingazeiras em tram­polins.
Verdadeiros acrobatas como os irmãos Vicente e Duca Marques, Elias Patrício e José Pisco, se destacavam pela coragem e habilidade de verdadeiros campeões olímpicos.
O rio não tinha ponte. Sua travessia era realizada através de pequenas canoas chamadas "cochos". Os canoeiros que se desta­cavam pelas habilidades do remo eram Manoel Balbino e José Canoa.
Em épocas de inverno, a travessia se tornava perigosa, exi­gindo força e astúcia na arte de navegar. Aí se sobressaía Manoel Balbino, demonstrando habilidade e segurança aos passageiros.
Em 1929, o então Prefeito de Juazeiro, Alfeu Ribeiro Aboim, construiu a primeira ponte do Rio Salgadinho, facilitando, assim, a vida daqueles que rotineiramente necessitavam atravessá-lo.
Hoje, infelizmente, o rio encontra-se poluído, estreito, ater­rado. Praticamente morto.
Recentemente o poeta João Bandeira escreveu um trabalho sobre a poluição do Rio Salgadinho. Este trabalho me tocou pro­fundamente e me encheu os olhos d' água.
Resta-me, agora, como saudosista, e amante da natureza, lembrar deste rio que, em um passado distante, fez parte da auro­ra da minha vida.
(Texto extraído do livro Juazeiro no túnel do tempo, de Senhorzinho Ribeiro. A foto é do Google Earth e mostra o Rio Salgadinho em foto de satélite).


quinta-feira, 19 de maio de 2011

O comércio no Juazeiro de ontem

O comércio de Juazeiro nos anos 20 - Por Senhorzinho Ribeiro

Na década de 20 e durante muitos anos o comércio de Juazeiro se localizava em torno da atual Praça Padre Cícero e se mantinha graças a uma feira que ocorria aos sábados, quando se aglomeravam boa parte da população das zonas urbana e rural.
Na feira, formada por comerciantes não estabelecidos da cidade e de outros municípios vizinhos, de tudo se vendia, desde comidas típicas, calçados, roupas, chapéus e principalmente cereais. As lojas de tecidos pertenciam aos comerciantes estabelecidos e se iniciava na esquina da Rua São Francisco onde hoje reside a Sra. Nazinha Viana.
Os prédios localizados na Rua São Pedro não tinham valor e naquela localidade, o comércio praticamente não existia. Os comerciantes de destaque naquela época foram José Vicente, Joaquim Paulo da Silva, Astoufo de Mendonça, José Augusto Lima, Dorgival Pires, Odílio Figueiredo, João Vitorino, Firmino Teixeira, José Couto, José Ferreira (Beato), Manoel Vitorino, Francisco de Andrade, Arlindo Vieira, Doroteu Sobreira, João Saad, José Francisco das Graças, José Pereira da Silva, Damião Pereira, José de Sá, Antônio Pita e J. Ribeiro.
Duas lojas se destacavam das demais, pelo porte e variedade de mercadorias que vendiam: Casa Abraão e as Pernambucanas. Todos esses comerciantes faziam grandes negócios, e alguns chegaram a ficar ricos.
A principal rotatividade do comércio dependia das safras agrícolas principalmente do algodão, quando o dinheiro corria fácil e gasto com certa facilidade.
Em 1922 houve uma grande produção de algodão, e tanto o agricultor, como o comerciante ganharam muito dinheiro. Aqueles que souberam administrar o capital fizeram fortunas. Outros permaneceram estáveis e alguns foram à falência. É que o comércio sempre foi um jogo, onde o principal segredo é a administração. Aqueles que não souberam administrar seus negócios não conseguiram sobreviver.
Todos esses pioneiros no comércio de Juazeiro pertenciam à classe média e eram considerados comerciantes de médio porte. Os fortes pertenciam ao comércio, indústria e agricultura. Dentre eles se sobressaíram José Pedro da Silva, comerciante e industrial, José Pereira da Silva, atacadista, José Bezerra de Melo, agricultor, José Bezerra de Menezes, pecuarista e Dirceu Inácio de Figueiredo, comerciante.
Assim, graças à força de trabalho destes pioneiros, a cidade se desenvolveu, sendo hoje considerada um dos maiores centros comerciais do interior do Nordeste. (Extraído do seu livro Juazeiro no túnel do tempo)

 O comércio de Juazeiro nos anos 60 - Por Jussier Matos
O SACI anunciava uma grande promoção na sapataria CHIC, com toda linha de Luís XV e Anabela, com descontos especiais e tudo em até três pagamentos, e a partir daí todos os lojistas dos quarteirões sucesso e progresso da nossa cidade aderiram a esse esquema de vendas, começando pela A SIMPATIA, que colocou as calças Faroeste e camisas Clipper nas mesmas condições, fato imitado pelo ARMAZÉM FEIJÓ e CASA BRANCA, que eram vizinhos, só que o diretor do DEPÓSITO   ABC, comentava na lanchonete A BEIRA FRESCA, com Pedro da  GLOBO CONFECÇÕES, que esse tipo de promoção não era muito bom, pois já tinha vendido pelo preço normal e de repente estavam baixando os mesmos, ao que Pedro contra-argumenta  que a SAPATARIA CARIOCA, já fazia isso há muito tempo e nunca tivera problemas, somente a revenda WILLYS, é que dera um desconto a mais e um cliente que havia comprado um jeep e outro soube do fato e  não gostou, fato contornado com um jogo de calotas para o seu possante. No BAR ALVORADA, um diretor da CIROL comentava  com os presentes, que Feitosa acabara de carregar o seu Mercedes 1111, com destino a ANDERSON CLAYTON, e em seguida iria ao Recife, buscar pneus e lubrificantes para A CHEVROLET,  e de passagem por Caruaru, compraria sacos de estopa para a ICASA enfardar plumas de algodão. Nesse momento chega Audísio pdv, com uma rural nova para A CRAJUBAR, e como ajuda na gasolina trouxera alguns relógios para a joalharia A PÉROLA.
E as promoções continuaram. A VENCEDORA colocou um cartaz em sua porta dizendo que, se A PERNAMBUCANA aderisse, eles fariam o mesmo inclusive iria convidar o ARMAZÉM SÃO PEDRO e SUPERMERCADO PUMA, para entrarem no esquema, alegando que até a COTEJUNO estava dando descontos nas ligações intermunicipais, conforme reclames da RÁDIO IRACEMA.
Fizeram parte também das promoções as seguintes lojas: MÁRIO MODAS, LOJAS MASA, DISTRIBUIDORA PAULISTA, GILSON´S MAGAZINE, XAVIER CONFECÇÕES, MERCANTIL FORTALEZA, CASA AMAZONAS, CENTRO ELÉTRICO, NINO, DEPÓSITO SÃO PAULO, CASAS DAHER, CASA ALENCAR, ELETRO GONDIM,  entre outras.
Pois é, todas essas empresas fizeram parte do comércio de Juazeiro, e hoje não existem mais, ou os seus proprietários mudaram de segmento ou simplesmente não fizeram SUCESSORES.
É uma pena...

terça-feira, 17 de maio de 2011

A Família de Lampião em Juazeiro - Por Leandro Fernandes













Muita gente não sabe, mas a família de Lampião viveu em Juazeiro do período de 1923 a 1927, com a permissão do Padre Cícero. Na segunda década do século passado, por duas vezes, a família Ferreira teve que se mudar em razão dos entreveros com o vizinho José Alves de Barros, o Zé de Saturnino. Na primeira vez, obedecendo a um pacto de acomodação arbitrado pelo Coronel Cornélio Soares de Vila Bela, mudaram-se para a Vila de Nazaré (hoje Carqueja–PE). Na segunda vez, demandaram à cidade alagoana de Mata Grande, ocasião em que morreram os genitores de Lampião, José Ferreira (vítima da volante de José Lucena Maranhão) e Dona Maria (vítima de um ataque cardíaco).
Em 1922, o jovem cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, já definitivamente com o pé fincado no cangaço, assume a chefia do bando do célebre Sinhô Pereira, que deixava o Nordeste em fuga para Goiás. A família Ferreira, sem possibilidade de retornar para Vila Bela, procura abrigo em Juazeiro do Norte. Com a morte dos pais, João Ferreira (o único dos irmãos que não entrou para o cangaço), assume a chefia da família. Após conversa com o Padre Cícero, recebe permissão para se estabelecer em Juazeiro com as irmãs, cunhados, primos (os Paulo) e sobrinhos.
Na passagem de Lampião por Juazeiro do Norte, em 1926, foram tiradas várias fotografias da família. Na célebre foto da família reunida (que é vista acima), vemos na extrema esquerda sentado, Antônio Ferreira e na extrema direita, Lampião; a segunda sentada da direita para a esquerda é Dona Mocinha (tendo seu marido, Pedro Queiroz, atrás de si); ao lado direito de Pedro está João Ferreira; do lado esquerdo de João está Ezequiel (que depois entraria para o cangaço com o vulgo de Pente Fino); e, finalmente, o segundo da direita para a esquerda, em pé, é Virgínio (seria o futuro cangaceiro Moderno, chefe de grupo), casado com uma irmã de Lampião, que logo morreria de parto em Juazeiro.
Na ocasião da foto, Dona Mocinha (Maria Ferreira de Queiroz) estava recém-casada com Pedro e, nas várias ocasiões em que a entrevistei, ela sempre externou a enorme benevolência do Padre Cícero, e que todos da família se sentiam seguros em Juazeiro.  Dona Mocinha, hoje com 96 anos, única remanescente viva dos irmãos e irmãs de Lampião, mora em São Paulo e foi diversas vezes entrevistada por mim. Contou-me que aprendeu a dançar com Virgulino tocando “harmônica” no terreiro da fazenda “Passagem das Pedras”, em Vila Bela, e que o irmão vivia na casa da avó, Dona Jacosa Lopes. Refere-se aos irmãos sempre com muito carinho, dizendo que o mais fechado era Antônio e o mais brincalhão era Levino Ferreira. E, em todas as vezes que conversamos, sempre externou a excelente acolhida que a família teve em Juazeiro, e gratidão de todos ao Padre Cícero. Tanto é que seu primogênito é afilhado do Padre Cícero. Rememora com muita satisfação dos familiares de João Mendes de Oliveira, de quem se tornaram amigos. Dona Mocinha casou em Juazeiro com Pedro Queiroz e só deixou a Meca nordestina quando a polícia pernambucana intimou seu marido em Vila Bela, e o prendeu arbitrariamente. Então, Dona Mocinha (e parte da família), teve que deixar Juazeiro em 1927 para residir em Serra Talhada.
Para finalizar, deixo minhas homenagens à Dona Mocinha, que hoje, quase centenária e lúcida, é um repositório vivo da história recente do Brasil e de Juazeiro do Norte, uma vez que foi expectadora de camarote de um dos períodos mais interessantes e polêmicos da nossa história recente, além de ser testemunha inconteste do desprendimento e da bondade incondicionais do Padre Cícero Romão Batista. (O autor é médico, cordelista, escritor, residente em Teresina, PI – Foto 1: O autor com Dona Mocinha. Foto 2: Lampião com seus familiares em Juazeiro)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

História da construção do Monumento de Padre Cícero - Por Aldemir Sobreira


No início de 1967, fomos entrevistar o recém-eleito prefeito de Juazeiro do Norte, Dr. Mauro Sampaio. Ele estava dando um banho, como administrador. Certo dia, no início da sua gestão, Mauro me deu uma carona e, durante o trajeto até a prefeitura, me disse que um beato havia dado uma sugestão para construção de uma herma, lá no Horto. Seria uma forma de homenagear o Padre Cícero...
- O que você acha disso?
- Que herma, que nada, Doutor Mauro! Meu "padim" merece mais do que um simples busto, lá no Horto. Vamos construir é um monumento! Você tem todas as condições para realizar uma obra capaz de ser um ponto de referência da gratidão do povo de Juazeiro ao seu grande benfeitor; mais do que um projeto turístico de grande envergadura, capaz de eternizar, na memória regional, a gratidão dos juazeirenses e de todos os romeiros...
- É caro! Disse o Dr. Mauro.
- Que nada, Mauro, quanto a isso, o Gumercindo Ferreira tira de letra. Na base da administração direta.
- Você tem quem faça o projeto?
- Ainda não, mas isso é fácil. Na próxima viagem a Fortaleza, vamos atrás de um escultor e está tudo resolvido. Não conseguimos encontrar nenhum escultor disponível, em Fortaleza. Nesse meio tempo aconteceu um fato interessante. A Faculdade de Filosofia do Crato estava organizando uma Exposição de Artes Plásticas e fomos convidados, pelo seu Diretor, professor José Newton Alves, para integrar a Comissão Julgadora, juntamente com as professoras Maria dos Remédios e Sílmia Sobreira. Ao final da abertura da exposição, tivemos a oportunidade de adquirir uma das obras premiadas: O primeiro lugar, um quadro de Abrãao Batista, retratando o Cristo. Quando estávamos na fila, para adquirir uma outra peça premiada, uma estátua da Mulher Rendeira, saindo da própria almofada, muito original, uma apressada senhora furou a fila e adquiriu a obra. Cheguei diante do escultor laureado, sorrindo.
- É duro ser cavalheiro! Perdi a chance de adquirir a sua mulher rendeira e, quando já ia me retirar, caiu a ficha.
- Você seria capaz de construir uma estátua, um monumento?
- É minha praia, disse ele. Meteu a mão no bolso interno do seu paletó e retirou um maço de fotos: Monumento do Jegue de Patos; Monumento do Vaqueiro etc...
- Você acaba de ser "intimado" para construir o monumento do Padre Cícero, lá em Juazeiro!
E o talentoso artista plástico, o pernambucano, Armando Lacerda, representante comercial da Cinzano, construtor de monumentos, por esse Nordeste, rindo, aceitou a incumbência. Chico Bento, empresário de transportes e amigo do Armando, prontificou-se em levá-lo a Juazeiro, na segunda-feira. Quando Armando Lacerda chegou à prefeitura, já vinha com uma proposta definida em mente. O monumento teria 7 metros de altura, fora a base... Um assombro! Acertou os detalhes da matéria-prima, um barro preto lá de Barbalha, para construção do protótipo. Numa noite de quinta-feira, fomos à casa do Armando, para ver o protótipo. A primeira dama, Dayse Sampaio, doutor Mauro e eu. Uma surpresa! Armando havia optado para erguer uma estátua de 12 metros e não 7. O modelo do protótipo media 1,20m. Esse modelo foi presenteado ao Doutor Mauro. O passo seguinte era arranjar um local adequado para iniciar a montagem do modelo da estátua. Um amplo galpão. O velho armazém da antiga usina de algodão da P. Machado, na Rua São Paulo, esquina com a São Francisco. Foi o escolhido e apro-vado. Durante a construção da modelagem da estátua, Armando Lacerda tomou uma decisão surpreendente. O modelo foi redimensionado para ter 17 metros, fora base, e não mais os 12 metros, imaginados anterior-mente. O engenheiro Rômulo Ayres Montenegro ficou encarregado de realizar os cálculos de engenharia da base e da estátua. O resultado foi além do esperado e o doutor Mauro inaugurou o monumento, no início de novembro de 1969. 
(Na montagem fotográfica acima, com imagens do saudoso fotógrafo Raimundo Oliveira Gonçalves, vemos a estrutura do monumento em construção e o prefeito Dr. Mauro Sampaio acompanhado do escultor do monumento, Armando Lacerda).

domingo, 15 de maio de 2011

O Cruzeiro do Século - Por Daniel Walker

No início da Avenida Lindalva Maria Rodrigues, que dá acesso à Rua do Horto, existe ao lado de um cruzeiro azul um pedaço de madeira e pouca gente sabe que ele é o que restou do cruzeiro da virada do século XIX (1899/1900) que foi afixado pelo Padre Cícero neste mesmo local, conforme mostra a outra foto. O cruzeiro do século XX (o azul mostrado na foto),  foi afixado pelo Prefeito Mauro Sampaio. Para os romeiros o local é uma atração turística e religiosa porque muitos sabem que aquele velho pedaço de madeira é o que restou do cruzeiro que foi afixado pelo Padre Cícero. Muita gente faz o sinal da cruz quando passa por ele. Há também quem para e faz oração. 


sexta-feira, 13 de maio de 2011

Inauguração da Praça Almirante Alexandrino de Alencar - Por José dos Anjos Dias

A estátua do Padre Cícero Romão Baptista, situada à Praça Almirante Alexandrino (atual Praça Padre Cícero), foi inaugurada no dia 11 de janeiro de 1925, e não como está sendo interpretado que ocorrera o acontecimento no dia 24 de março de 1924.
A inauguração da referida estátua, estava prenunciada para ser no dia do aniversário natalício daquele reverendo, que seria a 24 de março de 1924. Por motivo superior deixou de ser naquela data e abaixo citarei o que deu causa ao ato sustatório.
O Ministro da Marinha, naquela época, fora distinguido através de convite feito pelo Padre Cícero, com a finalidade daquele titular da Pasta Naval vir a Juazeiro para assistir à inauguração da estátua. Estava à frente dos destinos da Marinha, o Almirante Alexandrino de Alencar, figura rutilante pela bondade de coração e gestos nobres.
Aquele chefe supremo do Ministério da Marinha acusou o recebimento do convite e agradeceu a gentileza do levita caririense. Alegou ao Padre Cícero que não era possível o seu comparecimento ao ato atestatório de bondade e conceito reconhecidamente pelo povo, em oferecer-lhe um monumento para perpetuação à sua memória. Acrescentou mais que mandaria em seu lugar um contingente naval para abrilhantar a solenidade, seria a Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará. Deixava de apresentar-se por ocasião do acontecimento, devido o seu estado de saúde não lhe permitir.
A evasiva do Ministro da Marinha, alegada ao Pe. Cícero teve cunho real, porque aquele dignitário naval morreu após a inauguração da estátua.
Na época prevista ao ato de inauguração da estátua, não foi possível o chegamento da referida guarnição que o Almirante prometera enviar ao Juazeiro, em virtude da supra dita escola encontrar-se no período letivo.
Então, o Ministro da Marinha, com a devida antecedência apresentou ao Padre Cícero desculpas por não poder deslocar aquela escola, em março, conforme prometera, porque iria interromper a rotina programada ao ensino destinado aos aprendizes marinheiros do Ceará. Mas em dezembro faria a Escola de Aprendizes Marinheiros apresentar-se ao Padre Cícero.
Daquela forma, impreterivelmente, seria inaugurada a estátua com aparato suntuoso porque o reverendo era merecedor. Isso, consoante ao modo de pensar ou de ver do Ministro da Marinha para com o Padre Cícero.
O Padre Cícero e o Dr. Floro Bartolomeu da Costa, Deputado Federal e braço direito do Taumaturgo do Nordeste, concordaram com a justificação apresentada pelo Almirante Alexandrino e esperaram pela vinda da alegada escola.
Em dezembro de 1924, quando a escola terminou a aprendizagem das matérias de aplicação intelectual, o Ministro da Marinha ordenou ao Capitão Tenente Pedro Augusto Bittencourt, que na ocasião era o comandante da escola, para seguir com seus aprendizes marinheiros com destino ao Juazeiro do Norte e apresentar-se ao Pe. Cícero.
O contingente naval, formado por aquela escola, só conseguiu chegar a esta cidade aos primeiros dias de janeiro de 1925, tendo embarcado em Fortaleza numa composição da antiga R.V.C. (Rede de Viação Cearense). Naquele tempo, a Rede de Viação Cearense-Estrada de Ferro de Baturité, atual REFFESA, ainda não havia atingido Juazeiro do Norte e tinha seu fim de linha em Ingazeira onde a escola desembarcou, distante de Juazeiro 10 léguas.
Dali, para chegar ao Juazeiro, utilizou vários tipos de transportes, conseguindo alcançar nossa cidade, mais ou menos a 8 de janeiro de 1925, época chuvosa e de muita lama nas estradas.
Se não fosse a estima que o Pe. Cícero desfrutava, o Ministro da Marinha não teria à custa de sacrifício e despesa para o cofre naval, enviado aquela guarnição militar a Juazeiro do Norte.
Vejamos que a Marinha, até então, nunca havia deslocado uma guarnição para o interior, a fim de dar testemunho de respeito ou adesão a nenhum homem por mais influente que fosse, só o Padre Cícero foi merecedor daquela consideração.
Com a chegada do almejado contingente, o povo alvoroçou-se para ver de perto os soldados da Marinha. E, efetuou-se a solenidade de inauguração da estátua a 11 de janeiro de 1925, e não a 24 de março de 1924 como acreditam aqueles que desconhecem o acontecimento, por não constar nenhuma inscrição no monumento ao Padre Cícero, que faça referência ao ato.
Nunca houve em nossa cidade uma festa como aquele acontecido. A guarnição naval compunha-se de 100 aprendizes marinheiros e um 2º Sargento, sargenteante da escola, dois cabos de esquadra e três marinheiros de 1ª classe, cinco oficiais subalternos e um Capitão Tenente, comandante da escola.
Estavam fardados caprichosamente e ficaram formados defronte à estátua, e a banda de música da referida escola executando belíssimos dobrados, o povo eufórico batia palmas.
O Padre Cícero estava presente ao ato inolvidável e acompanhado pelo saudoso Dr. Floro Bartolomeu, autoridades civis e militares de Fortaleza. Bem assim das autoridades do Crato, Barbalha e Missão Velha, São Pedro (atual Caririaçu) e Brejo Santo, inclusive a fina nata da sociedade das cidades referidas.
Diversos oradores fizeram uso da palavra, inclusive o notável Dr. Gomes de Matos que tinha o dom da oratória. O seu discurso de improviso fez o reverendo ficar emocionado, conservando-se por alguns minutos com o olhar fixo à sua estátua, e seus olhos marejando.
(Texto resumido de um artigo publicado originalmente no Boletim do ICVC de 1982)

terça-feira, 10 de maio de 2011


HISTÓRICO DA CAPELA DO SOCORRO


Daniel Walker

Capela Nossa Senhora do Perpétuo Socorro
100 Anos de História, Fé e Devoção
1908 - 2008


Tudo começou com uma promessa
No livro de Amália Xavier de Oliveira (O Padre Cícero que eu conheci) consta que a Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro cuja construção foi interrompida várias vezes só foi concluída em 1908, mas não se sabe nem o dia nem o mês. Foi seu pai, José Xavier de Oliveira, quem a construiu com recursos do Padre Cícero. A capela foi construída para pagar uma promessa feita pela Sra. Hermínia Gouveia, em virtude da graça alcançada pela cura de uma doença (erisipela) da qual estava acometido o Padre Cícero. Dona Hermínia não era beata, mas uma senhora casada (depois viúva), que veio da cidade de Jardim, Ceará, para Juazeiro e aqui se tornou grande amiga de Padre Cícero, que foi seu conselheiro espiritual.
Mesmo suspenso de ordem por conta da questão do milagre da hóstia, Padre Cícero começou a construção da capela que logo foi paralisada por determinação do vigário de Crato, padre Quintino de Oliveira e Silva, para cumprir uma exigência do bispo de Fortaleza, Dom Joaquim José Vieira. Dona Hermínia ficou muito contrariada com esta decisão, mas com a chegada de Dr. Floro Bartolomeu da Costa a Juazeiro, em 1908, ela pediu sua interferência para continuar a construção, pois se encontrava muito doente e não queria morrer sem ver a capela concluída.
A pedido de Dr. Floro, o Sr. José Xavier de Oliveira, pessoa de extrema confiança de Padre Cícero, procurou o vigário de Crato e conseguiu deste a aprovação para continuar a construção, desde que Padre Cícero não tivesse nenhuma participação. Mas o certo é que a construção continuou sob a responsabilidade financeira de Padre Cícero. Quando o prédio recebeu a cobertura, dona Hermínia morreu. Então, Padre Cícero em sinal de gratidão, resolveu sepultá-la no interior da capela.
Ao tomar conhecimento deste fato, o vigário do Crato profundamente irritado tentou impedir a todo custo o sepultamento, e como não conseguiu, porque Padre Cícero permaneceu firme na sua decisão, proibiu novamente a construção da capela.

Dr. Floro assume o comando da construção
Aí Dr. Floro, conforme disse em discurso pronunciado na Câmara Federal e depois transformado em livro, resolveu terminar a obra sem mais ouvir ponderações do Padre Cícero nem de ninguém, assumindo sozinho todas as conseqüências que tal decisão pudesse acarretar.

Bispo não benze a capela
Concluída a obra, o bispo não concordou em benzer a capela para uso de cultos religiosos e determinou o seu fechamento até segunda ordem.
Em 17 de janeiro de 1914, quando estava em curso a chamada Revolução de 14, morre a beata Maria de Araújo e Padre Cícero manda sepultá-la na capela. Também fez o mesmo quando morreram sua mãe, dona Quinô, sua irmã Angélica, e até uma doméstica de sua casa, de nome Maria Joaquina. Tudo isso contribuiu para que a tão esperada bênção da Capela do Socorro fosse cada vez mais retardada, contrariando a população e principalmente o Padre Cícero.

Romeiros desobedecem e abrem a capela
No dia 9 de dezembro de 1921 num ato de ousadia e desrespeito, um grupo de romeiros indignados invade a capela e lá passam a noite cantando e rezando. Padre Cícero achando que isso era uma afronta aos seus superiores resolveu intervir e os romeiros se retiraram pacificamente.

A capela é benta 24 anos depois
Embora tenha sua construção concluída em 1908, somente 24 anos depois, ou seja, no dia 10 de junho de 1932, a Capela do Socorro foi finalmente benta, segundo está no livro Formação Religiosa de Juazeiro do Norte, de Mário Bem Filho. Assim, a conclusão que se tira é a seguinte: neste ano de 2008 o prédio da Capela do Socorro completa 100 anos de construção, mas ela oficialmente como templo religioso só existe a partir da data em que foi benta. Até então, isto é, de 1908 a 1932, ela não sediou nenhum ato religioso oficial. Padre Cícero nunca celebrou missa nela, pois desde 1892 estava suspenso de ordem.

Fatos importantes
A Capela do Socorro ocupa espaço importante na história de Juazeiro do Norte, razão por que é um dos principais locais de visita dos romeiros e dos turistas que vêm a nossa cidade. Tudo isso se justifica em face dos inúmeros fatos importantes que fazem parte da sua história, dentre os quais podemos destacar: O sepultamento do Padre Cícero, no dia 21.07.1934 (um dia após a sua morte) – A exumação do corpo da beata Maria de Araújo, por ordem do vigário de Juazeiro, Monsenhor José Alves de Lima, no dia 22.10.1930, sob o pretexto de que o túmulo construído ao lado direito da capela ocupava muito espaço e impedia a passagem dos fiéis – A fundação da Confraria de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em 25.06.1950, a pedido de Mons. Lima ao bispo Dom Francisco de Assis Pires, tendo como primeiro presidente a Sra. Cristina Arrais Almeida. A presidente atual é Joana Angélica Feitosa Leonel - A inauguração da Torre Monumental com o relógio, marco em homenagem aos 70 anos da morte de Padre Cícero e a inauguração dos lindos vitrais, dois dos quais com as figuras de Padre Cícero e da beata Maria de Araújo, no dia 13.05.2006, pelo Pe. João Bosco – A transformação da Capela em Reitoria por ato do bispo Dom Fernando Panico, em 20.12.2002 – A instituição da Hora da Graça, pelo Pe. José Alves, em 27.06.1976 e da Missa do Dia 13, em homenagem a Nossa Senhora de Fátima, pelo Pe. Luís Parente por sugestão de Maria das Graças Veras Teixeira - A tradicional Missa do Dia 20, celebrada todo mês em ação de graças pela alma do Padre Cícero. E também a famosa Missa de seu aniversário, no dia 24 de março. Durante muitos anos o próprio pároco da Matriz de Nossa Senhora das Dores, Padre Murilo de Sá Barreto, foi o celebrante oficial – A bênção do Papa João Paulo II para os devotos da Capela do Socorro, cuja placa comemorativa foi afixada pelo Pe. José Alves. Vale lembrar também que o famoso Frei Damião celebrou várias vezes e a cantora Dalva de Oliveira entoou alguns números musicais, quando esteve em Juazeiro para pagar uma promessa feita ao Padre Cícero (para recuperação da voz).
Em sua existência centenária a Capela do Socorro passou por várias reformas, mas no geral sua estrutura ainda é fiel à original. Neste breve histórico é impossível citarmos os nomes de todos os benfeitores e zeladores da Capela do Socorro. Mas, não poderíamos, por uma questão de justiça, de fazer menção a um seleto grupo de pioneiros e pioneiras abnegados que deram a sua melhor contribuição para que a Capela do Socorro trilhasse o caminho da glória. Dentre tantos, podemos citar: O maestro João Boaventura que abrilhantava as missas tocando (no órgão) lindas músicas sacras acompanhadas de um coral formado, entre outras por Nair Silva, Maria de Beato e Alexandrina; Albertina Veras Teixeira, Chiquinha Dantas, Bideza, Terezinha Morais, Maria das Dores Bezerra, Rejane, Socorrinha, Maria Coló, seu Roque, seu Pedro, João Alves, João Peixoto, José Matuto, beata Bichinha, Aluísio, o cantor Francisquinho, Vanderlei, Assis, Diva Pinheiro, Mundinha Paiva, dona Quiterinha, dona Neném, Manoel Balbino, Irmã Alicantina, Cicinha e Romana e os dois primeiros ministros da Eucaristia, seu Matias e seu Expedito Garcia. Deixou boa recordação o incessante trabalho de dona Cristina Almeida especialmente na confecção dos andores e do presépio nos festejos natalinos, dos quais muita gente ainda hoje recorda com saudade.

Capelães e Vigários Paroquiais
O primeiro Capelão da Capela do Socorro foi o padre Silvino Moreira Dias (falecido). Os padres que o sucederam foram sendo chamados de Vigários Cooperadores e atualmente de Vigários Paroquiais. São eles:
Pe. José Alves de Oliveira
Pe. Sebastião Pedro do Nascimento
Pe. José Almeida dos Santos
Pe. Paulo Francisco de Moura
Pe. Luis Martins Parente
Pe. João Bosco Lima
Pe. Paulo Lemos Pereira
Pe. Sebastião Bandeira
Pe. José Cláudio da Silva
Pe. José Ricardo Barros de Sales
Pe. Joaquim Cláudio de Freitas

Bibliografia
Bem Filho, Mário. Formação religiosa de Juazeiro do Norte. Fortaleza: ABC Editora, 2002.
Costa, Floro Bartolomeu da. Juazeiro e o Padre Cícero. Natal: sebo Vermelho, 2004. 2ª. ed.
Della Cava, Ralph. Milagre em Joaseiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
Oliveira, Amália Xavier de. O Padre Cícero que eu conheci, Rio de Janeiro 1969.
Informações prestadas pela Professora Graça Veras Teixeira.