Primeiro combate
“Aos 14 de janeiro de 1913 houve
o primeiro combate no lugar denominado Buriti a pouca distância do Crato,
começando o mesmo a l hora da tarde e findando às 6, estando-se ambos os lados
em linha de fogo. Os romeiros eram comandados pelos chefes: Dr. Floro
Bartolomeu da Costa, Manoel Chiquinho, Zé Pedro, Manoel Pedro, Zé Terto, Manoel
Santana, Chagas e Manoel Calixto, batalhões estes que se estendiam até o Pau
Seco. As famílias sitiadas em Juazeiro estavam morrendo de fome, por isto
mesmo, enquanto uns guerreavam, outros iam pegando sacos de farinha, matando
criações e transportando para Juazeiro.
Conseguiram tomar ainda muitas
armas rabelistas, como rifles, bombas envenenadas, facas e punhais, além de
muita munição. Os soldados mortos não eram enterrados por falta de tempo,
enquanto os romeiros mortos eram conduzidos imediatamente para Juazeiro. O
Padre Cícero recomendava que não abandonassem nenhuma pessoa que encontrassem
com um rosário no pescoço, pois ali estava o sinal de sua devoção e sua fé na
Santíssima Virgem”.
Segundo combate
Foi este um dos mais tenebrosos
combates contra Juazeiro. Os soldados rabelistas trouxeram as artilharias de
guerra, inclusive as mais possantes peças, colocando-as no sítio Macacos, num
ponto em que pudesse alvejar Juazeiro, de modo que numa só descarga deixaria
Juazeiro arrasado. Os soldados estenderam linhas de fogo em todas as direções,
avançando para a invasão para em poucos minutos acabarem com tudo aquilo que o
Padre Cícero mais estimava: as imagens e seus romeiros.
Os romeiros entrincheirados por
trás da terra do valado atiravam de pronto, depois passaram a atirar de cima da
trincheira, num tiroteio cerrado enquanto davam vivas ao Padre Cícero e a Nossa
Senhora das Dores. Não satisfeitos transpuseram o valado e foram enfrentar os
soldados em campo aberto. Os romeiros avançaram e os soldados recuavam. Em dado
momento os soldados fizeram as peças dispararem, contudo as mesmas mentiram
fogo, perdendo de tudo a ação. Enquanto os rabelistas cantavam o hino da
guerra, os romeiros cantavam o ofício de Nossa Senhora, avançando como valentes
formigas, lutando sem nenhuma instrução. Dentro em pouco as peças estavam em
poder dos romeiros e por ordem de Dr. Floro foram conduzidas para o antigo
vapor do Padre Cícero em Juazeiro.
O Dr. Floro Bartolomeu nos combates
usava roupas grosseiras, alpercata de rabicho, um cantil, rifle, além de um
rosário e uma medalha benta no pescoço (como se vê na foto). Logo depois da
passeata pelas ruas, cantaram um Maneiro Pau na Praça da Liberdade em Juazeiro:
Meu Padim Ciço é quem ganha/
Maneiro pau, maneiro Pau/E banana prós Rabelos/Maneiro pau, maneiro pau. Agora
vamos ao Crato/Maneiro pau, maneiro pau, /Levar um chá prós Rabelos/Maneiro
pau, maneiro pau.
RECOMENDAÇÕES
O Padre Cícero recomendava a
todos os romeiros combatentes que fossem unidos, obedecessem aos regulamentos
dos superiores, rezassem o rosário todos os dias, levando cada um deles uma
medalha, tendo de um lado a imagem de Nossa Senhora e do outro a imagem de São
Bento. Adiantava mais que era proibido a todos o uso de bebidas alcoólicas, não
tomassem água num só cantil, não acendessem cigarros um no outro, não
perseguissem a pessoa alguma que fugisse, mesmo sendo soldado, não praticassem
desonras.
No mesmo sentido fez uma
recomendação a todos os moradores de Juazeiro, que nos seus quintais cavassem
um grande buraco para botarem a família na hora dos tiroteios. Na hora dos
combates, o Padre Cícero, com uma imagem do Senhor nas mãos, fazia suas
orações, enquanto os romeiros, mesmo escondidos nos buracos, cantavam o ofício
de Nossa Senhora.
Terceiro combate
Era um dia de quinta-feira, 24 de
Janeiro de 1914, às 3 horas da tarde deu-se o início da tomada do Crato pelas
tropas comandadas por Dr. Floro, Zé Pedro e outros. As tropas iam armadas de
rifles, espingardas de fuzil, espingardas de cartuchos, bacamartes boca de
sino, garruchas, manulixas, currupachés, mosquetões, combréias, chuços,
cavadores, foices, machados, etc. As armas mais possantes haviam sido tomadas
dos soldados nos combates anteriores.
Os macacos (como eram chamados os
soldados rabelistas), acamparam nas proximidades do Crato, mais precisamente no
lugar denominado Cemitério do Cólera a espera dos jagunços, assim eram
denominados os romeiros. Naquele tempo, o lugar era coberto por árvores de
grande porte. A corneta bradou mais ou menos às 3 horas da tarde, anunciando a
primeira ameaça de luta: os romeiros dispararam alguns bacamartes, dando aviso
da chegada. Logo iniciou-se tremendo tiroteio com fogo cerrado. Balas zuniam,
dando a impressão de estarem em luta dois exércitos poderosos. Os romeiros
avançaram. As famílias cratenses recolheram-se às suas casas. Os romeiros
entravam pelos fundos das casas dos primeiros quarteirões. Enquanto uns
atiravam, outros furavam as paredes e muros das casas, dando passagem ao batalhão.
Já bem adiantados, mais ou menos no centro da cidade, deram início aos
festejos, soltando os afamados foguetões envenenados, que alcançavam uma
distância de mais ou menos dois quarteirões. Nos disparos das bombas, que só
ocorriam na queda das mesmas, surgia uma fumaça que atingia a vista e a
garganta. Não havia soldado que agüentasse. Zé Pedro com seu reforço ia se
aproximando das principais artérias da cidade, dando vivas ao Padre Cícero e a
Nossa Senhora das Dores. Ao chegarem na cadeia pública soltaram os presos e em especial Zé Pinheiro
que foi um forte batalhador. Já eram quatro horas da tarde e o tiroteio
continuava em todos os recantos da cidade, deixando apenas livres as estradas
do Lameiro e Seminário, para dar passagem àqueles que quisessem fugir. Já alta
hora da noite, o major Ladislau conhecendo sua maior derrota bradou:
"Salve-se quem puder". A esta ordem, o restante da tropa e alguns
correligionários fizeram-se das pernas. Somente na manhã do dia 24 de janeiro é
que os romeiros saíram, pois ainda estavam recolhendo armas e alimentos.
Quarto combate
QUARTO COMBATE (TOMADA DE
BARBALHA): No dia 27 de janeiro, às 8 horas do dia, deu-se a tomada de
Barbalha. Houve pequeno tiroteio, pois felizmente já não encontraram quase
ninguém. Havia romeiros que subiam por cima das casas à procura de soldados,
porém nada encontravam, todos haviam fugido. QUINTO COMBATE (TOMADA DO IGUATU):
Dia 3 de fevereiro de 1914, partia de Juazeiro o Cel. Pedro Silvino e José de
Borba, comandando um batalhão de romeiros. Deu-se então o quinto combate na
cidade de Iguatu. SEXTO COMBATE (TOMADA DE MIGUEL CALMON E FORTALEZA): No dia
22 de fevereiro, de 1914 houve um combate cerrado no qual apresentou-se o
Capitão José da Penha Alves (Jota da Penha) que logo foi alvejado, tendo morte
imediata. Depois da sua morte não houve mais impedimento. Os romeiros avançaram
e sitiaram Fortaleza. O Cel. Marcos Franco Rabelo, Presidente do Estado, foi
deposto do cargo. O Beato Chiquinho de bacamarte na mão gritava para o Rabelo:
Chega para frente ladrão.
No dia 4 de março de 1914, o Governo Federal
decretou estado de sítio para o listado do Ceará, terminando assim a guerra. O
Dr. Floro ganhou honras de Ministro e o Padre Cícero voltou a ser Prefeito de
Juazeiro do Norte e os romeiros ficaram gloriosíssimos vitoriosos. "Todo
aquele que invocar o nome do Senhor Deus será socorrido", palavras
bíblicas. (Fonte:
Eu, o índio e a floresta, de
Manoel Caboclo)