domingo, 27 de janeiro de 2013

Revolução de 1914 - Por Manoel Caboclo


Primeiro combate
“Aos 14 de janeiro de 1913 houve o primeiro combate no lugar denominado Buriti a pouca distância do Crato, começando o mesmo a l hora da tarde e findando às 6, estando-se ambos os lados em linha de fogo. Os romeiros eram comandados pelos chefes: Dr. Floro Bartolomeu da Costa, Manoel Chiquinho, Zé Pedro, Manoel Pedro, Zé Terto, Manoel Santana, Chagas e Manoel Calixto, batalhões estes que se estendiam até o Pau Seco. As famílias sitiadas em Juazeiro estavam morrendo de fome, por isto mesmo, enquanto uns guerreavam, outros iam pegando sacos de farinha, matando criações e transportando para Juazeiro.
Conseguiram tomar ainda muitas armas rabelistas, como rifles, bombas envenenadas, facas e punhais, além de muita munição. Os soldados mortos não eram enterrados por falta de tempo, enquanto os romeiros mortos eram conduzidos imediatamente para Juazeiro. O Padre Cícero recomendava que não abandonassem nenhuma pessoa que encontrassem com um rosário no pescoço, pois ali estava o sinal de sua devoção e sua fé na Santíssima Virgem”.


Segundo combate
Foi este um dos mais tenebrosos combates contra Juazeiro. Os soldados rabelistas trouxeram as artilharias de guerra, inclusive as mais possantes peças, colocando-as no sítio Macacos, num ponto em que pudesse alvejar Juazeiro, de modo que numa só descarga deixaria Juazeiro arrasado. Os soldados estenderam linhas de fogo em todas as direções, avançando para a invasão para em poucos minutos acabarem com tudo aquilo que o Padre Cícero mais estimava: as imagens e seus romeiros.
Os romeiros entrincheirados por trás da terra do valado atiravam de pronto, depois passaram a atirar de cima da trincheira, num tiroteio cerrado enquanto davam vivas ao Padre Cícero e a Nossa Senhora das Dores. Não satisfeitos transpuseram o valado e foram enfrentar os soldados em campo aberto. Os romeiros avançaram e os soldados recuavam. Em dado momento os soldados fizeram as peças dispararem, contudo as mesmas mentiram fogo, perdendo de tudo a ação. Enquanto os rabelistas cantavam o hino da guerra, os romeiros cantavam o ofício de Nossa Senhora, avançando como valentes formigas, lutando sem nenhuma instrução. Dentro em pouco as peças estavam em poder dos romeiros e por ordem de Dr. Floro foram conduzidas para o antigo vapor do Padre Cícero em Juazeiro. 
O Dr. Floro Bartolomeu nos combates usava roupas grosseiras, alpercata de rabicho, um cantil, rifle, além de um rosário e uma medalha benta no pescoço (como se vê na foto). Logo depois da passeata pelas ruas, cantaram um Maneiro Pau na Praça da Liberdade em Juazeiro:
Meu Padim Ciço é quem ganha/ Maneiro pau, maneiro Pau/E banana prós Rabelos/Maneiro pau, maneiro pau. Agora vamos ao Crato/Maneiro pau, maneiro pau, /Levar um chá prós Rabelos/Maneiro pau, maneiro pau.
RECOMENDAÇÕES
O Padre Cícero recomendava a todos os romeiros combatentes que fossem unidos, obedecessem aos regulamentos dos superiores, rezassem o rosário todos os dias, levando cada um deles uma medalha, tendo de um lado a imagem de Nossa Senhora e do outro a imagem de São Bento. Adiantava mais que era proibido a todos o uso de bebidas alcoólicas, não tomassem água num só cantil, não acendessem cigarros um no outro, não perseguissem a pessoa alguma que fugisse, mesmo sendo soldado, não praticassem desonras.
No mesmo sentido fez uma recomendação a todos os moradores de Juazeiro, que nos seus quintais cavassem um grande buraco para botarem a família na hora dos tiroteios. Na hora dos combates, o Padre Cícero, com uma imagem do Senhor nas mãos, fazia suas orações, enquanto os romeiros, mesmo escondidos nos buracos, cantavam o ofício de Nossa Senhora.

Terceiro combate
Era um dia de quinta-feira, 24 de Janeiro de 1914, às 3 horas da tarde deu-se o início da tomada do Crato pelas tropas comandadas por Dr. Floro, Zé Pedro e outros. As tropas iam armadas de rifles, espingardas de fuzil, espingardas de cartuchos, bacamartes boca de sino, garruchas, manulixas, currupachés, mosquetões, combréias, chuços, cavadores, foices, machados, etc. As armas mais possantes haviam sido tomadas dos soldados nos combates anteriores.
Os macacos (como eram chamados os soldados rabelistas), acamparam nas proximidades do Crato, mais precisamente no lugar denominado Cemitério do Cólera a espera dos jagunços, assim eram denominados os romeiros. Naquele tempo, o lugar era coberto por árvores de grande porte. A corneta bradou mais ou menos às 3 horas da tarde, anunciando a primeira ameaça de luta: os romeiros dispararam alguns bacamartes, dando aviso da chegada. Logo iniciou-se tremendo tiroteio com fogo cerrado. Balas zuniam, dando a impressão de estarem em luta dois exércitos poderosos. Os romeiros avançaram. As famílias cratenses recolheram-se às suas casas. Os romeiros entravam pelos fundos das casas dos primeiros quarteirões. Enquanto uns atiravam, outros furavam as paredes e muros das casas, dando passagem ao batalhão. Já bem adiantados, mais ou menos no centro da cidade, deram início aos festejos, soltando os afamados foguetões envenenados, que alcançavam uma distância de mais ou menos dois quarteirões. Nos disparos das bombas, que só ocorriam na queda das mesmas, surgia uma fumaça que atingia a vista e a garganta. Não havia soldado que agüentasse. Zé Pedro com seu reforço ia se aproximando das principais artérias da cidade, dando vivas ao Padre Cícero e a Nossa Senhora das Dores. Ao chegarem na cadeia pública soltaram os presos e em especial Zé Pinheiro que foi um forte batalhador. Já eram quatro horas da tarde e o tiroteio continuava em todos os recantos da cidade, deixando apenas livres as estradas do Lameiro e Seminário, para dar passagem àqueles que quisessem fugir. Já alta hora da noite, o major Ladislau conhecendo sua maior derrota bradou: "Salve-se quem puder". A esta ordem, o restante da tropa e alguns correligionários fizeram-se das pernas. Somente na manhã do dia 24 de janeiro é que os romeiros saíram, pois ainda estavam recolhendo armas e alimentos.

Quarto combate
QUARTO COMBATE (TOMADA DE BARBALHA): No dia 27 de janeiro, às 8 horas do dia, deu-se a tomada de Barbalha. Houve pequeno tiroteio, pois felizmente já não encontraram quase ninguém. Havia romeiros que subiam por cima das casas à procura de soldados, porém nada encontravam, todos haviam fugido. QUINTO COMBATE (TOMADA DO IGUATU): Dia 3 de fevereiro de 1914, partia de Juazeiro o Cel. Pedro Silvino e José de Borba, comandando um batalhão de romeiros. Deu-se então o quinto combate na cidade de Iguatu. SEXTO COMBATE (TOMADA DE MIGUEL CALMON E FORTALEZA): No dia 22 de fevereiro, de 1914 houve um combate cerrado no qual apresentou-se o Capitão José da Penha Alves (Jota da Penha) que logo foi alvejado, tendo morte imediata. Depois da sua morte não houve mais impedimento. Os romeiros avançaram e sitiaram Fortaleza. O Cel. Marcos Franco Rabelo, Presidente do Estado, foi deposto do cargo. O Beato Chiquinho de bacamarte na mão gritava para o Rabelo: Chega para frente ladrão.
 No dia 4 de março de 1914, o Governo Federal decretou estado de sítio para o listado do Ceará, terminando assim a guerra. O Dr. Floro ganhou honras de Ministro e o Padre Cícero voltou a ser Prefeito de Juazeiro do Norte e os romeiros ficaram gloriosíssimos vitoriosos. "Todo aquele que invocar o nome do Senhor Deus será socorrido", palavras bíblicas. (Fonte:
Eu, o índio e a floresta, de Manoel Caboclo)